O Tédio Exaustivo: A Síndrome de Boreout Sob a Ótica de Profissionais com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD)
A síndrome, do inglês "boredom" (tédio), manifesta-se através de uma tríade de sintomas: tédio, falta de significado e desinteresse.
Para profissionais com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD), o ambiente de trabalho pode se transformar em um campo de subutilização crônica, levando a um estado de esgotamento paradoxal conhecido como Síndrome de Boreout. Diferente do Burnout, que surge do excesso de trabalho, o Boreout é o resultado da falta de estímulos, de desafios intelectuais e do tédio profundo, uma realidade frequentemente vivida por aqueles cuja capacidade de processamento e aprendizado acelerado não encontra vazão em suas funções.
Para um profissional com AH/SD, cujas características intrínsecas incluem curiosidade aguçada, pensamento complexo e uma necessidade constante de novos aprendizados, um trabalho monótono e repetitivo não é apenas desinteressante, mas profundamente frustrante e invalidante.
As Raízes do Boreout em Profissionais com AH/SD
A suscetibilidade desses profissionais ao Boreout decorre de um descompasso fundamental entre suas habilidades e as demandas do ambiente corporativo tradicional. Entre os principais fatores, destacam-se:
Subutilização de Habilidades: Profissionais com AH/SD frequentemente dominam rapidamente as tarefas que lhes são atribuídas e anseiam por novos desafios. Quando presos a rotinas que não exigem suas capacidades de resolução de problemas, criatividade ou pensamento crítico, a sensação de estagnação se instala.
Falta de Desafios Intelectuais: A ausência de problemas complexos e da oportunidade de explorar novas ideias e projetos leva a uma subestimulação intelectual. Para uma mente que funciona em alta velocidade, a falta de "alimento" intelectual é exaustiva.
Dificuldade de Encaixe e Incompreensão: Muitas vezes, a rapidez de raciocínio e a profundidade com que analisam questões podem ser mal interpretadas por colegas e gestores como arrogância ou impaciência. Isso pode levar ao isolamento e à relutância da liderança em confiar-lhes tarefas mais complexas.
Busca por Propósito: Indivíduos com altas habilidades frequentemente buscam um significado maior em seu trabalho. Tarefas que percebem como irrelevantes ou que não contribuem para um objetivo maior podem gerar um profundo sentimento de vazio e desengajamento.
Perfeccionismo e Autocrítica: O tédio e a falta de desafios podem levar a um ciclo de autocrítica. O profissional pode começar a duvidar de suas próprias capacidades, questionando se não está sendo "bom o suficiente" para receber tarefas mais interessantes, quando na verdade o ambiente é que é limitador.
A Experiência do Boreout: Um Olhar de Dentro
Do ponto de vista de um profissional com AH/SD, o Boreout é uma experiência desgastante e muitas vezes silenciosa. A energia mental que não é canalizada para o trabalho se volta para dentro, manifestando-se em:
Ansiedade e Inquietação: A mente subestimulada procura por estímulos, o que pode gerar um estado constante de ansiedade e dificuldade de concentração nas poucas tarefas existentes.
Procrastinação Estratégica: Para preencher o tempo ocioso e criar uma aparência de ocupação, o profissional pode estender a duração de tarefas simples ou procrastinar para depois se engajar em atividades que lhe interessem mais, mesmo que não relacionadas ao trabalho.
Fadiga e Letargia: O tédio crônico é psicologicamente exaustivo. A falta de engajamento drena a energia, levando a um cansaço que parece desproporcional à carga de trabalho real.
Sentimentos de Inutilidade e Baixa Autoestima: A percepção de que seu potencial está sendo desperdiçado pode corroer a autoconfiança e gerar sentimentos de frustração e inutilidade.
Sintomas Físicos: Assim como o Burnout, o Boreout pode levar a manifestações físicas como dores de cabeça, insônia e problemas gastrointestinais, decorrentes do estresse psicológico.
Enfrentando o Tédio: Caminhos Possíveis
Superar o Boreout para um profissional com AH/SD exige uma abordagem proativa tanto do indivíduo quanto da organização.
Para o profissional, é crucial o autoconhecimento para identificar a origem da insatisfação e buscar ativamente por novos desafios, seja através da proposição de projetos inovadores, da busca por formação contínua em áreas de interesse ou até mesmo da transição de carreira para um ambiente mais estimulante.
Para as empresas, a chave está em reconhecer e valorizar a neurodiversidade. Isso implica em criar planos de carreira flexíveis, oferecer oportunidades de desenvolvimento que contemplem a complexidade e a profundidade que esses profissionais necessitam, e promover uma cultura que incentive a autonomia e a criatividade. A retenção de talentos com altas habilidades depende diretamente da capacidade da organização de mantê-los engajados e desafiados, transformando seu potencial em um ativo valioso, em vez de uma fonte de frustração e tédio.