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Cair em Si: O Espanto de Encontrar-se Consigo Mesmo

Nesta live eu reflito sobre CAIR EM SI, voltar a si, sentir-se você mesmo, e trafego por este fluxo, sem convidados.

Há momentos na vida em que algo extraordinário acontece: você cai em si. Não tropeça, não escorrega — você literalmente cai dentro de si mesmo, como quem encontra uma porta secreta em sua própria casa e descobre cômodos que sempre estiveram ali, mas permaneciam inexplorados.

É uma sensação de estar em si próprio. De habitar o próprio corpo, a própria existência, a própria consciência, a própria emoção. Que sensação é essa? A mim parece uma espécie de sensação de integridade. Quando minha mente, meu corpo, meu ânimo — que é uma abstração de tudo — se conecta, e aí eu cheguei em mim, cheguei em mim, eu cheguei em mim, eu voltei, voltei.

Você já experimentou isso? Já caiu em si alguma vez? Pelo menos já tropeçou em si próprio? Ou então teve essa sensação de que encontrou consigo mesmo? Se você não está entendendo o que estou falando, talvez seja porque ainda não viveu essa experiência de forma consciente. Mas eu aposto que já viveu, sim — só não prestou atenção suficiente para reconhecê-la.

A Experiência da Integridade

Tem várias pessoas que dizem isso: "eu caí em si". O que é cair em si, senão voltar a si próprio? "Eu voltei a ser eu, voltei a mim". É uma experiência de intensa singularidade — você se sente único, você se sente em si próprio, mas se sente único de uma forma muito particular.

Porque se sentir único é fácil, basta todo mundo te excluir, te tratar como diferente, te tratar como mau caráter, neurodivergente, doente. Tem um monte de adjetivo para designar o que não é normal, a non-normalidade. Quando isso ocorre, sua singularidade está alta, né? Só que ela não está se expressando. É uma singularidade imposta, não escolhida.

Mas quando você cai em si, a sensação é completamente diferente. É como determinar escrever um poema que você nem sabe o que escrever, ou um beijo roubado, ou um pássaro raro que você vê no céu e te espanta. É uma sensação de espanto de si próprio. Um espanto de si próprio. Essa é a sensação.

Você se reconhece, mas se reconhece como se fosse a primeira vez. Como se descobrisse que sempre foi quem é, mas nunca tinha prestado atenção suficiente para perceber. É um encontro íntimo consigo mesmo, uma reunião de todas as partes dispersas da sua existência em um momento de clareza absoluta.

Nesse instante, não há fragmentação. Não há a voz que quer uma coisa e outra voz que quer outra. Não há o conflito entre quem você é em casa e quem você é no trabalho. Há apenas você, inteiro, presente, habitando plenamente sua própria vida.

As Múltiplas Vozes Que Nos Habitam

Ah, você não está entendendo o que eu estou falando? Você está entendendo porque a gente tem essa voz interna e as vozes do mundo, e às vezes a nossa voz interna, ela se quebra, parece que são duas ou três vozes internas.

Isso acontece nos momentos de conflito, você está tendo que decidir entre ser pai ou ser profissional, ou ser marido ou ser feliz. Os momentos de choque entre as nossas identidades — as nossas identidades trazem essas vozes. Então você já ouviu mais de uma voz alguma vez? Vez outra?

É fascinante como somos múltiplos. Como carregamos dentro de nós diferentes versões de quem podemos ser, diferentes necessidades, diferentes desejos que nem sempre se alinham. O pai em você quer estar presente para os filhos, mas o profissional quer se dedicar integralmente ao trabalho. O marido quer ser um bom companheiro, mas o indivíduo quer ser livre para buscar sua própria felicidade.

Essas vozes não são necessariamente contraditórias — elas são facetas legítimas da nossa complexidade humana. O problema surge quando elas começam a brigar entre si, quando não conseguimos encontrar um ponto de equilíbrio ou uma forma de honrar todas elas de maneira integrada.

E de repente, em alguns momentos raros e preciosos, você sente que tudo o que você estava dizendo, ouvindo, sentindo, vivendo, vendo, experimentando no corpo, estava tudo reunido. Cara, se foi assim, então você estava numa experiência de fluxo bem forte, bem intensa.

Nesses momentos, as vozes param de brigar. Elas se harmonizam como instrumentos em uma orquestra, cada uma contribuindo com sua parte única para uma sinfonia maior. Você não precisa escolher entre ser pai ou profissional — você é ambos, simultaneamente, sem conflito. Você não precisa abrir mão da sua felicidade para ser um bom companheiro — você descobre que sua felicidade e seu compromisso podem coexistir e até se potencializar mutuamente.

A Reciprocidade Cósmica das Relações

Eu gosto de conversar, eu gosto de estar com as pessoas, eu gosto de estar com as pessoas que eu gosto, que são as pessoas que gostam de estar comigo quando eu estou gostando de estar com elas, que são as pessoas que eu gosto. Eu tenho essa relação sistêmica com as pessoas que eu gosto.

Parece um trava-língua, mas na verdade é uma descrição precisa de como funcionam as relações humanas quando elas fluem naturalmente. É a lei de ouro, como dizem, a lei áurea: não faça para o próximo o que não quer que façam para você. Ou, na versão positiva: faça para o próximo o que gostaria que fizessem para você.

Eu chamo isso de princípio da reciprocidade cósmica. Algo que está acima de quem está vivo. Não mate a maratina, não quer que a maratina te mate. Não temos comprovação científica disso, mas há uma sabedoria intuitiva nessa reciprocidade que transcende nossa compreensão racional.

É como se o universo operasse em um sistema de equilíbrio energético. A energia que você coloca no mundo — seja ela de amor, de raiva, de generosidade, de mesquinharia — tem uma tendência a retornar para você de alguma forma. Não necessariamente da mesma pessoa ou da mesma maneira, mas há um fluxo, uma circulação.

Quando você está em sintonia consigo mesmo, quando caiu em si, você naturalmente se alinha com essa reciprocidade cósmica. Você não precisa forçar relacionamentos ou fingir afeto. Você simplesmente gravita em direção às pessoas com quem há uma ressonância natural, e elas gravitam em direção a você.

É uma dança sutil, essa da reciprocidade. Você oferece sua presença genuína, e recebe presença genuína de volta. Você oferece escuta, e é escutado. Você oferece compreensão, e é compreendido. Não é uma transação comercial — é um fluxo orgânico de energia humana que, quando funciona bem, nutre todos os envolvidos.

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